Valor diagnóstico da incontinência urinária no diagnóstico de crises

(“The diagnostic value of urinary incontinence in the differential diagnosis of seizures”)

Brigo FNardone RAusserer HStorti MTezzon FManganotti PBongiovanni LG

Seizure. 2013 Mar;22(2):85-90

Abstract: Proposta: Incontinência urinária pode ocorrer tanto em crises epilépticas (CE) e em eventos não epilépticos (ENE), como eventos não epilépticos psicogênicos (PNEEs) e síncope. Uma pesquisa na literatura para determinar a acurácia desse achado físico e a prevalência em crises epilépticas e síncope estava faltando. Feita uma revisão sistemática para determinar a sensibilidade, especificidade e a probabilidade (LR) da incontinência urinária no diagnóstico diferencial entre CE e ENE (incluindo síncope e PNEEs). Métodos: Estudos avaliando a presença de incontinência urinária em CE e ENE foram sistematicamente pesquisados. Sensibilidade, especificidade, valor preditivo negativo e positivo para incontinência foi determinado em cada estudo e agrupado os resultados. Resultados: Cinco estudos (221 pacientes epilépticos e 252 pacientes com ENE) foram incluídos. Medidas agrupadas de precisão para incontinência urinária (CE versus ENEs) foi: sensibilidade de 38%, especificidade 57%, VPP 0,879 (95% CI 0,705 – 1,095)e VPN 1,092 (95% CI 0,941-1,268). Para cada comparação (crises epilépticas versus ENE; CE versus síncope; CE versus PNEEs), medidas agrupadas de precisão para incontinência urinária não mostraram VPP estatisticamente significativos (o CI 95% para o valor agrupado incluía o 1). Conclusão: A análise agrupada dos dados da literatura mostra que incontinência urinária não tem valor no diagnóstico diferencial entre CE e síncope/PNEEs. Revisão sistemática com análise agrupada de dados da literatura permite aumentar o poder estatístico e melhorar a precisão, representando uma ferramenta útil em determinar a acurácia de certo achado físico no diagnóstico diferencial entre CE e outros eventos paroxísticos.

Comentário: Episódios paroxísticos de perda de consciência são raramente presenciados pelo médico. Na prática, norteamos o diagnóstico, se crise epiléptica ou não, baseado no testemunho de quem a presenciou. Para isso, colhemos detalhes de como o evento ocorreu, com dados a respeito de como foi o ictus, pós ictal, circunstâncias em que ocorreu etc. Alguns dados semiológicos das crises nos direcionam o raciocínio clínico para crise epiléptica e outros para crise não epiléptica. Em um estudo prévio de revisão sistemática realizado pelo mesmo grupo de pesquisadores desse trabalho mostrou que a mordedura de língua ocorrida durante o evento suporta o diagnóstico de crise epiléptica. A incontinência urinária é outro dado da história que encontramos na prática clínica. Para avaliar o valor diagnóstico da incontinência urinária no diagnóstico de crises epilépticas, o autor fez uma revisão sistemática da literatura, selecionando 5 trabalhos após aplicar os critérios de inclusão e exclusão. Após a análise desses dados publicados, concluiu que a incontinência urinária não tem valor no diagnóstico diferencial entre crise epiléptica e não epiléptica considerando como um todo ou no diagnóstico diferencial entre crises epilépticas e síncope/eventos psicogênicos.

Link: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23142708